Eu, Irmã Maria Tereza Urbano, conheci a Vila São João no 1º semestre de 2003, quando, juntamente com uma amiga, Nilda Siqueira, visitei este bairro de Várzea Grande. Estava, então, no limiar dos meus 50 anos e sentia ressoar constantemente em meu coração inquieto, esta Palavra de Deus: “Eu vi o sofrimento do meu povo, eu ouvi o seu clamor e desci para libertá-lo”. ( Ex 3, 7 ss)
Foi amor a primeira vista, mas também um grande desafio. Era preciso vencer o medo, ultrapassar a porta do desconhecido, deixar as seguranças ‘adquiridas’, gerar o novo… E ainda, solidarizar-me com crianças seminuas e desnutridas, de barrigas enormes e olhos espantados, com as famílias moradoras dos casebres que então formavam a Vila, onde sobrava o lixo e excrementos humanos misturavam-se aos dos animais, emanando um fedor contínuo; onde os pernilongos vinham, aos enxames, e deixavam o corpo todo formigando e a música ensurdecedora da periferia varava a noite… O desafio parecia maior do que as minhas forças! “Quem sou eu para ir ter com eles?”. (idem)
“Vai. Eu te envio.” (idem) E vim. Cheguei na Vila São João, para morar, no dia 28 de fevereiro de 2004. O que fazer? Havia muito a se fazer. Antes de tudo, era necessário conhecer as pessoas, cativá-las e ir discernindo os caminhos e eu não dispunha de outros recursos, senão os da fé em Deus presente – o EMANUEL – e a certeza de que este mundo pode ser mais feliz, mais justo e solidário.
Medo e coragem, presença e solidão, ganhos e perdas, plenitude que avança em meio às incertezas… foram os privilégios deste tempo. Mas logo, trilhas se abriram em meio ao deserto e sombras revelaram presenças surpreendentes: na Vila havia um pequeno grupo de jovens e as senhoras do sopão e ‘lá de fora’, muitos amigos e amigas, a Pastoral da Família da Paróquia N. Sra. da Guia, integrantes do Lions Club de Várzea Grande e até alguns missionários da Igreja dos Santos dos Últimos Dias foram se inserindo, no Projeto, como sujeitos desta nova história.
A solidariedade, formando uma imensa rede, permitiu que um barraco sem água e sem luz, rodeado de mato e lixo, cinco copos de plástico, uma bola, uma corda, as brincadeiras, os cantos, a oração, o acompanhamento das tarefas escolares das crianças, enfim, uma pequena célula se multiplicasse e tomasse corpo. Assim foi o começo: Deus presente e o CENPRHE – Centro de Promoção Humana Emanuel – nascendo.