”São exatos 20 anos dedicados a transformar o destino de crianças que viviam em situação de extrema miséria”
No início, tudo o que tinham eram mesas construídas com peças de madeira doada e muita vontade de ajudar. Foi assim que a missionária Maria Tereza Urbano começou o trabalho assistencial com crianças na Vila São João, em Várzea Grande (MT). Hoje, a Associação Varzea grandense Madre Tereza de Calcutá/CENPRHE está entre as 100 melhores ONGs do Brasil, depois de ter sido reconhecida, em 2022 e 2023, como a Melhor ONG do Estado do Mato Grosso. Conheça os detalhes dessa linda história de amor e compaixão na entrevista a seguir:
Como teve início a associação e de onde surgiu essa vontade de ajudar? Em 2003, quando ainda morava em Cuiabá, era gestora de uma creche filantrópica e ouvia falar em como a população da Vila São João vivia em extrema miséria e isso cortava meu coração. Quando fui conhecer a Vila, vi crianças descalças, seminuas, desnutridas e com comportamentos agressivos. Isso me tocou. Eu entendi que aquele era o meu lugar. Fui morar na Vila e, com o tempo, fui cativando as crianças. Porém, como sozinhos não realizamos nada, eu descobri uma comunidade de jovens católica, me apresentei e começamos a fazer o trabalho.
E como foi o início dos trabalhos na comunidade? Recebiam algum apoio? Lembro quando fomos carpir o terreno. Um senhor nos viu carpindo o chão duro e nos doou um saco de areia. Depois, conseguimos umas tábuas com uma serraria e fizemos umas mesas para reunir as crianças. Na mesma época também ganhei sacos de soja, que usava para preparar o leite vegetal para as crianças. Com o tempo foram chegando doações de alimentos e roupas. Eu acredito que quando uma ação está alinhada com o propósito universal de vida e de amor para as pessoas, isso floresce e cresce de uma forma incrível. De início, não tínhamos absolutamente nada, a não ser a certeza e a vontade de que poderíamos realizar algo com aquelas crianças.
Como era feito o trabalho com as crianças? De princípio era o acolhimento. Dar atenção, fazer um elogio, dar um abraço… Coisas simples mas que resgatam a autoestima e a socialização. Também ajudávamos a fazer a tarefa escolar e depois brincávamos com eles. Em 2006 iniciamos a construção de uma sede. Juntamos dinheiro e compramos três pequenos lotes. Até o final de 2008 já tínhamos uma sede, mas ainda estávamos na informalidade. A mantenedora, Associação Varzeagrandense Madre Tereza de Calcutá, foi composta em 2009, quando começaram a surgir muitas parcerias que só foram aumentando ao longo dos anos. O resultado de tudo isso se reflete hoje. Recebemos o prêmio de melhor ONG do Estado do Mato Grosso (2022 e 2023) e estamos entre as 100 melhores associações sociais do Brasil.
Qual foi a sua maior satisfação em todo esse processo? A minha maior alegria foi ver a transformação das crianças. Os pais não tinham nem documentos para conseguir o bolsa família. Eles não frequentavam as escolas, mas com a nossa ajuda tiveram apoio de material para estudar. As crianças, que antes eram agressivas, se transformaram em amorosas, carinhosas e compreensivas.
Quais são os objetivos para o CENPHRE agora? Somos referência no Estado do Mato Grosso, mas nosso objetivo é ser referência no Brasil. Já passaram por nós mais de 3 mil crianças, sendo que muitas já possuem curso superior, estão no mercado de trabalho e temos até um atleta profissional jogando em Portugal. Também estamos em um processo de sucessão de liderança, pois não conseguimos nos manter à frente da gestão pedagógica no momento, mas queremos que o CENPHRE vá muito além de todos nós! Hoje, muitos membros do CENPHRE fazem parte do grupo de jovens que nos auxiliaram desde o início. O “eu” se tornou “nós” de forma muito rápida.
Tem alguma coisa a mais que você gostaria de dizer? Eu me sinto uma pessoa plena, feliz e gratificada. O propósito da vida é a vida em abundância. É assim que eu quero contribuir para o mundo.
REPRODUÇÃO: FALM